Debate no ônibus
Era fim de tarde na Zona Oeste de São Paulo. Entro no ônibus em direção à faculdade em que trabalho. Era uma terça-feira comum, mais um dia na vida de muitos trabalhadores e cidadãos brasileiros.
Mal passo pela catraca e pego uma conversa pela metade. Liderando-a em voz alta, eloquente e com forte sotaque nordestino está o cobrador:
– Vocês aqui de São Paulo ficam elegendo o PSDB. Já faz trinta anos que eles estão no governo. Aécio, Dória, o tal “gestor”. Estão todos nesse governo corrupto, entregando o pré-sal. O Serra, onde já se viu!? Pisou em um abaixo assinado contra a reforma da previdência. Como pode uma coisa dessas?
E insiste, agora mirando para uma senhora que sentava à frente.
– Vocês de São Paulo é que votam nesses caras!
No que a senhora replica:
– Eu não votei não! Não voto em ninguém faz tempo!
– Agora ninguém votou né? Ninguém votou no Aécio, no PSDB! – continua o cobrador indignado. Pelo menos antes não tinha isso, o país crescia, não entregavam o pré-sal.
Neste ponto, um outro passageiro, um rapaz de 20 e poucos anos, intervém:
– Mas roubar pode? – referia-se ao PT, claro.
Gaguejando um pouco, o cobrador retruca:
– É, mas, e esse governo que está aí?! Antes pelo menos se investigava.
– Não importa! Então que peguem todos!
– Pois é …
Por fim uma outra senhora, sentada ao lado do cobrador dá sua opinião:
– A gente tem que votar nulo. As pessoas já estão fazendo isso, mas a mídia tem medo e não divulga.
Depois disso, o cobrador trocou mais algumas palavras com esta senhora – as quais eu não consegui escutar – e o debate se encerrou.
Saí do ônibus pensando em apenas uma coisa.
Políticos, intelectuais e empresários – e qualquer um que se proponha a pensar e a fazer o país – precisam andar mais de ônibus.
…
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